terça-feira, 23 de novembro de 2010

TV a sempre "menina bonita"

"As novas tecnologias não mataram o pequeno ecrã -A televisão recusa-se a morrer e continua a ganhar espectadores "
21.11.2010, Por Ana Machado - Público

Vaticinou-se várias vezes o fim da televisão. Mas esta soube transformar o que podiam ser as ameaças à sua sobrevivência em ferramentas para se reinventar. Este domingo celebrou-se o Dia Mundial da Televisão, que ainda não morreu às mãos da Internet ou dos novos gadgets. Pelo contrário, transforma-se. E até ganha novas audiências.
Um estudo da entidade reguladora britânica dos media, a Ofcom, conclui que o número de telespectadores no Reino Unido atingiu o ponto mais alto dos últimos cinco anos. Quem diria que depois de se ter pensado que a televisão estava condenada, com o advento da Internet e com o visionamento a la carte de conteúdos em sites como o YouTube ou nos gadgets do momento – smartphones, tablets e outros – ela iria ultrapassar uma espécie de crise de meia-idade e recuperar?
Segundo o estudo da Ofcom, em 2009 o tempo médio que cada britânico dispensava ao visionamento de programas aumentou três por cento em comparação com os dados de 2004. Os ingleses vêem, em média, 45 minutos de televisão por dia.
A capacidade de gravar a programação através de dispositivos digitais, em vez de afastar do pequeno écrã, tornando o visionamento mais selectivo e mais raro, acabou por intensificá-lo. “Ao contrário do velhinho VHS, que era difícil de programar e que só nos dava uma parte ínfima da programação, as novas tecnologias dão-nos a hipótese de gravarmos os programas que gostamos. Eles estão a trazer as pessoas para a frente do televisor”, garante James Thickett, director de estudos de mercado da Ofcom, ao diário britânico Guardian.
Quem fica a perder, nota, são os anunciantes, uma vez que os dispositivos digitais de gravação permitem saltar a publicidade. A Ofcom reconhece que há factores alheios ao desenvolvimento das tecnologias que podem também contribuir para este aumentar das audiências, como o envelhecimento da população. É que um indivíduo com mais de 65 anos tem tendência a ver, em média, cerca de cinco horas de televisão diárias.

Audiências em Portugal

Em Portugal, a Marktest garante: Se as audiências não aumentaram, pelo menos, nos últimos dois anos, também não diminuíram. Segundo a empresa de estudos de mercado, a audiência média de televisão em Portugal permanece intacta desde 2009. Existe 14,4 por cento da população que vê diariamente.
A Marktest lembra que estes dados não podem ser comparados com anos anteriores, porque a realidade televisiva portuguesa se alterou radicalmente nos últimos anos, ou seja, a audiência fragmentou-se. Mas, frisa a empresa de estudos, esta não diminuiu. Richard Broughton, analista para a área do audiovisual da empresa Screen Digest, um dos líderes mundiais em análise de media e de tendências, frisa ao Guardian que quem vaticinou a morte da televisão enganou-se.
“Muitos disseram que a Internet ia matar a televisão mas nós sempre defendemos que esta ia ficar entre nós por muitos e longos anos. É mais difícil rentabilizar conteúdos online e há muitas coisas que a televisão pode oferecer que a Internet não”. Broughton conclui que, em vez de competir com as redes sociais, a televisão acaba por ser um complemento, quando é possível usar o Twitter, o Facebook ou outras redes sociais, enquanto se vê o programa preferido.

“Estamos na era dos conteúdos, não na era da televisão”
Hoje a televisão é um território em constante mutação. Quem o diz é Nuno Artur Silva, director do canal Q e fundador das Produções Fictícias, para quem esta não é a era da televisão, é a era dos conteúdos. “A questão que hoje se coloca não é como fazer televisão, mas sim como ver televisão. Não se trata do fim desta mas de uma nova era. Estamos na era dos conteúdos, não na era da televisão”.
A era de que Nuno Artur Silva fala foi amadurecendo ao longo dos últimos anos. Estava-se em 2002 e pensava-se na forma de fundir as conquistas na área da Internet e do digital com a velha televisão. Mas não se sabia como chamar a esse casamento. Até que Henry Jenkins, professor do Massachusetts Institute of Technology, que estudava a convergência de culturas, se lembrou de sugerir um termo: transmedia storytelling. Os exemplos de experiências com conteúdos televisivos sucederam-se.Em Portugal têm exemplo nas experiências da beActive com a série Diário de Sofia, paradigma desta nova era. A série, hoje em exibição em dez países, foi primeiro um site, depois uma experiência em sms. Nasceu o livro. E, em 2006, veio a série televisiva, onde os espectadores, adolescentes, podiam intervir na acção, através do telefone, e ajudar a protagonista a decidir os seus dilemas.

O sucesso voltaria a ser repetido pela beActive com T2 para 3 – começou na Internet, passou para TV e acabou por ter uma adaptação para telemóvel, também está presente em dez países. “Hoje não falamos em público, mas públicos, há uma fragmentação de audiências, não oferecemos intervalos à publicidade mas territórios. Vejo o que quero nos mais variados gadgets. Sim, acredito que vamos ver mais televisão e em mais sítios. E esta nova realidade obriga a novas estratégias”, diz Nuno Artur Silva. “Mas ninguém prevê onde isto tudo vai dar”, conclui.
http://www.publico.pt/Media/a-televisao-recusase-a-morrer-e-continua-a-ganhar-espectadores_1467375?p=2

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