domingo, 10 de março de 2013

As montanhas-russas de Pedro Rodrigues e de mais umas quantas pessoas. Umas quantas.

"No outro dia enquanto mudava os lençóis da minha cama lembrei-me de ti. Lembrei-me de ti porque vi um fio dos teus cabelos que teimava em incrustar-se no tecido. Há dois meses que não mudava fosse o que fosse neste quarto. Tinha medo de mudar-te. Tinha medo de mudar-te de lugar. Tinha medo. Mesmo sabendo que já não estavas. Mesmo sabendo que já não te importas. Mesmo sabendo que não sei o que é feito de ti. Tinha medo. Mudava os lençóis e o meu coração saltava uma batida. Mudava a mesinha de cabeceira e o meu coração saltava uma batida. Guardava as nossas fotografias e o resto dos destroços da nossa relação e tu teimavas em fazer o meu coração saltar uma batida.
 Nesse dia, ao falar com uma amiga, confessava-lhe

-Namorar com ela era como andar numa montanha-russa

De sorriso disfarçado entre as expressões de tristeza e indiferença que todos evidenciamos nestas alturas. Ela olhava-me com ternura e repreensão. Dizia-me

-Não sabes se lhe hás-de fazer o luto, ou correr-lhe novamente para os braços

E na verdade não sabia. Continuo sem saber. Quando julgo que te esqueço, apareces-me à frente e volta tudo à estaca zero. Tens a mania de te deixar ficar no meu peito. Tens a mania de te demorar a sair. Tens a mania de me incomodar. Namorar contigo era como andar numa montanha-russa. Era excitante, eufórico, vertiginoso e apavorante. Não namorar contigo obriga-me a ressacar por ti. De maneira que não sei o que será melhor. Não sei se te faça o luto e te enterre debaixo de sete palmos de entulho amoroso, ou te corra para os braços e te peça permissão para embarcar numa nova viagem.

-Não sei que fazer. Juro que não sei que fazer...

A minha amiga

-Consegues imaginar uma vida inteira ao lado dela?

Eu, de sobrolho em riste, a pensar nos prós e nos contras da questão

-As montanhas-russas também cansam...

Por muito que quisesse não te conseguia imaginar ao meu lado durante uma vida inteira. Todos precisamos de estabilidade. Um dia a euforia esgota-se, a excitação torna-se em cansaço e a vertigem torna-se demasiado grande para ser suportada. Todos precisamos de um pouco de estabilidade. Todos precisamos de um fator de equilíbrio. É irónico o amor. Nem sempre aquilo que desejamos é aquilo que nos faz bem. Nem sempre aquilo que nos fascina é aquilo que nos faz ficar.

-As montanhas-russas também cansam, e eu estou cansado

O coração é irónico, tem-me dado o cérebro para equilibrar. Não sei se ainda te amo, ou se tenho saudades de te amar".

Pedro Rodrigues, Revista Algarve Mais