quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Na terra dos sonhos...

Já aqui falei do cantinho especial que tenho sempre comigo, que me "abastece" de energia para o ano inteiro. Ainda que distante, os km's esquecem-se nas entrelinhas. Porquê? Porque Aldeia Velha é sempre nossa: como porto seguro, como "país das maravilhas", como terra dos sonhos, como certeza no meio de todas as incertezas que pairam.

É difícil explicar o quanto aquela terra me diz. O quanto aquela terra nos diz, a nós, gente milhareira.
Sabemos que é da importância dos sentimentos, do convívio, das conversas, dos sorrisos, das gargalhadas, das histórias, das amizades, que nos fala ao ouvido. 

Viu-nos crescer, a todos: aos avós, aos pais, aos filhos, aos netos. Viu-nos aprender a gostar de milharas, a ouvir espanhol nas esquinas, a chamar txutxus aos bois e a esperá-los na praça. Viu-nos a construir amizades, a saber dizer "Bom dia" a qualquer "desconhecido conhecido" que por nós passa. Viu-nos a agarrar tradições, a segurar o forcão e a chorar no tractor e no palco de ansiedade e receio por quem o segura. Viu-nos a dizer "ai mãe", a comer queijo e tchouriça e a meter o dedo na massa das filhoses. Viu-nos a bailar ao som de Melendi. Viu-nos a cantar, saltar e abraçar Xutos ao fim da noite. Viu-nos a descer à ponte, a subir ao Quim e a descobrir caminhos pelos quais nunca nos perdemos. Viu-nos a saber que cada Sanches, cada Salgueira, Casanova, Nunes, e todos os outros, não são sobrenomes. São família. 

Viu-nos e continua a ver-nos crescer, continua a saber embalar-nos nos anos, a desenhar-nos os sonhos e a apagar-nos os medos.

É assim sempre. Aqui, o sempre existe mesmo! E tudo é para sempre... Haverá sempre Agosto, haverá sempre a ansiedade de 23, o brio de 24 a alegria de 25 e a ressaca de 26. Haverá sempre o Madeiro o o frio das manhãs geadas. Haverá sempre a porta aberta dos avós, dos tios e dos primos para nos receber. Haverá sempre o encerro às 8h00  e os que perdem as boleias do Super Milo, do Senhor Zé e do Florêncio para os ver. Haverá sempre o companheirismo dos mordomos, dos que coordenam os passos no forcão e dos que brindam no bar aos anos. Haverá sempre a Serra, a Nossa Senhora dos Prazeres, para respirar ar puro!

Voltar em Agosto tem um sabor agridoce mas é esse sabor que nos faz valorizar todos os regressos. Trazemos a alegria dos bons momentos e a saudade de os voltar a repetir. Durante os dias que lá passamos, entre capeias e festas, tudo o que não é Aldeia Velha, deixa de existir e passamos a existir por inteiro... Porque, por momentos,  "podes ser quem tu és e ninguém te leva a mal"  já que "na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual". 



Fotografia de Cláudia Casanova


"Guloseimas de infância, melhores que rebuçados", fotografia de Fátima Casanova


"Eu sou do tamanho do que vejo", fotografia de Fátima Casanova



Fotografia de Catarina Sanches


Fotografia de Catarina Tavares